Na Terra Yanomami, faltam médicos. Na verdade, em algumas das mais de 300 comunidades da etnia em Roraima falta de tudo. O posto de saúde está fechado, a comida não chega e a malária corre solta. Também são cada vez mais frequentes os casos de doenças sexualmente transmissíveis, na mesma frequência que avança o garimpo. Tudo isso foi documentado e divulgado esta semana, em levantamento Hutukara Associação Yanomami, a mais importante da etnia, e foi feito com a assessoria técnica do Instituto Socioambiental. Os relatos começaram a ser coletados há quatro anos. Em 84 páginas, tradutores, especialistas e indígenas revelam como o garimpo explodiu de tamanho no último ano, alcançando mais de 3,2 mil hectares, um salto de 46% na comparação com 2020. Mas essa investigação revela também como os garimpeiros mudaram de estratégia para buscar ouro e cassiterita. Em vez de tentar tomar a terra à força, os operadores do garimpo aliciam jovens indígenas para o trabalho em troca de armas, comunicação e bebida. O levantamento também mostra como a fome e a miséria são usadas como moeda de troca para abusos sexuais contra meninas da etnia. No Ao Ponto desta quarta-feira, o repórter Daniel Biasetto, que conversou com pesquisadores e indígenas que participaram da elaboração do relatório, relata o que está ocorrendo nesse momento da maior Terra Indígena do Brasil e explica como os garimpeiros atuam para aliciar jovens e exploram a fome e a miséria para o cometimento de abusos contra adolescentes.