Em entrevista ao GLOBO, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda contou ter sofrido pressão constante para acelerar o processo de importação da vacina indiana Covaxin, em circunstâncias que ele mesmo considerou suspeitas. Tanto que fez declarações no mesmo sentido em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), em um procedimento que investiga supostas irregularidades na contratação de 20 milhões de doses do imunizante. A compra, que totaliza R$ 1,6 bilhão, tem o valor mais alto por dose entre todos as vacinas negociadas pelo Brasil contra a Covid-19. Segundo Miranda, essas suspeitas também foram levadas ao presidente Jair Bolsonaro, em março de 2021, que teria prometido, na ocasião, falar com o comando da Polícia Federal (PF) para que o contrato fosse investigado. Na próxima sexta-feira (25), o servidor será ouvido na CPI da Covid.Por enquanto, nem a Polícia Federal, nem o próprio governo, esclarecem se essas informações foram de fato levadas pelo presidente à PF. A única investigação confirmada até agora foi anunciada na própria quarta-feira (23) pelo ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência. Em pronunciamento, o ministro refutou a suspeita de irregularidades no contrato e anunciou que todo o aparato de investigação do governo entrará no caso, mas não para apurar a compra da vacina, e sim o servidor que fez as revelações. Porém, o MPF apura uma série de outros indícios no contrato, por exemplo, a participação da empresa que representa o laboratório indiano Bharat Biotech no Brasil, a Precisa Medicamentos, e de que forma ela seria remunerada. Outro ponto diz respeito ao papel do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), um dos principais nomes do centrão. No Ao Ponto desta quinta-feira, os repórteres Leandro Prazeres e Natália Portinari explicam quais são os indícios de irregularidades que envolvem o contrato bilionário da compra da Covaxin, e também revelam como o Planalto reagiu às declarações do servidor do ministério da Saúde.