As cenas da invasão do Capitólio por apoiadores de Donald Trump não apenas comprovam a profunda divisão da sociedade americana. Revelam setores dispostos a atacar a democracia em nome de um projeto de poder que foi derrotado nas urnas. O grave episódio, no entanto, não impediu que os congressistas retornassem ao trabalho, após a retirada dos invasores, para sacramentar a vitória de Joe Biden, que assume no próximo dia 20. Também levou diferentes parlamentares, inclusive a democrata Nancy Pelosy, presidente da Câmara dos Representantes, a defenderem uma medida drástica: o uso da chamada emenda 25 da Constituição americana para que Trump seja afastado imediatamente do cargo, pressão que fez o republicano mudar de discurso e passar a falar em uma "transição pacífica". O ataque inédito ao maior símbolo da democracia americana provocou reações globais. A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merker, por exemplo, manifestou raiva e tristeza com o que viu pela TV. Mas, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro adotou outro caminho. Ele reafirmou a falsa alegação de que a eleição americana foi fraudada e, em tom de ameaça, disse que o mesmo pode ocorrer no Brasil, na disputa presidencial de 2022, caso o atual sistema de votação não sofra alterações. Bolsonaro, porém, jamais apresentou indícios de fraude na urna eletrônica usada pelo Tribunal Superior Eleitoral. No Ao Ponto desta sexta-feira, o sociólogo Sérgio Abranches e o especialista em política americana e professor de Relações internacionais da Faap Carlos Gustavo Poggio discutem o quanto a invasão do Capitólio também serve de alerta para o Brasil.